Por Mariana Adensohn
O contrário do que algumas pessoas dizem, eu acredito que não existe nenhuma linha de separação entre vida “pessoal” e vida “profissional”. Não dá para separar os dois temas, pois somos um único indivíduo. Executamos tarefas diárias com a unidade de nossa personalidade, tornando impossível separar o executivo, do marido, do amigo, do filho e do pai.
Eu lamento sempre quando escuto alguém dizer, e isso é muito comum, que felicidade no trabalho é possível sim, quando conseguimos equilibrar/separar vida pessoal de vida profissional. Lamento, pois acredito que isso não existe. Nós, seres humanos, não conseguimos separar as situações, mesmo camuflando o que estamos sentindo, quando existe algo mal resolvido em algum dos lados, isso martela nosso pensamento e nos consome com um monte de sentimentos, e algumas vezes acontecem as duas situações juntas. Por que? Isso é simples de responder: uma mente, um coração e uma só pessoa.
Existe um pensamento budista que diz que dois pensamentos opostos não ocupam o mesmo lugar na mente ao mesmo tempo. Ou seja, é impossível você sentir tranquilidade e ansiedade juntas. Depois de refletir sobre esse pensamento, cheguei à conclusão de que se começarmos a mudar algumas atitudes e substituir alguns pensamentos, principalmente aquele que para ser feliz devemos separar os personagens, deixaremos de nos envenenar e a busca pela felicidade, principalmente a felicidade no trabalho, deixará de ser algo que devemos alcançar somente quando atingimos um resultado específico e passa ser um estado de espírito inerente a atividade em que está executando.
Acredito que o trabalho não é somente uma fonte de “remuneração”, mas sim um grande potencializador de felicidade.
Mas então, o que é felicidade?
Bom, felicidade pode ser várias coisas, mas aí é que está o problema. Nós temos a tendência a projetar felicidade em “alguma coisa” ou “alguém”. Coisas inesperadas acontecem quando você encontra o seu estado de felicidade, independente da projeção ou do ambiente, familiar ou corporativo. O exercício para isso é: Tire todas as máscaras e as toxinas mentais e atitudinais da sua vida, entenda que não dá para separar o pessoal do profissional e use a felicidade como meio para tudo que você for executar. Como? Ponderando suas atitudes e influenciando o ambiente aonde você está inserido.
E para ponderar as atitudes eu te desafio a pensar em alguns pontos que nos ajudam a sobrepor pensamentos e a trabalhar a felicidade como caminho e não fim.
Comece quebrando paradigmas. O principal paradigma é o da mudança. É irrisório a quantidade de mudanças que fazemos durante o nosso dia. Muda a temperatura ambiente, o horário da reunião, o trajeto até a residência por conta do transito, o planejamento de agenda, nossas prioridades, muda até o humor das pessoas com quem interagimos. E nós ainda somos resistentes a ela. Mudança faz parte do dia a dia e quando passamos a aceita-la e usá-la como oportunidade, tudo muda para melhor. Temos a tendência a usar duas datas importantes, como o ano novo e o aniversário para iniciar algum processo de mudança: perder peso, fazer um curso, iniciar alguma atividade, trocar de emprego, mas cuidado, nem sempre mudanças agressivas funcionam. Mude aos poucos.
Acredito que um dos pontos para a felicidade no trabalho, e talvez esse seja um dos mais importante é: Deixa para lá! As pessoas que sobrevivem as adversidades corporativas, são aqueles que conseguem esquecer o assunto, zerar a situação e seguir em frente. Às vezes você carrega tanto peso, se sente tão pesado que nem sabe o porquê. Jogue fora toda bagagem inútil que existe dentro de você.
Recentemente assisti uma palestra sobre o gerenciamento do tempo e o primeiro slide da apresentação do palestrante, trazia a seguinte pergunta: Você sabe gerenciar seu tempo? Passei algumas horas refletindo sobre o tema e cheguei à conclusão de que o desafio não é gerenciar o tempo e sim a nós mesmos. O tempo é algo externo e que você não gerencia, mas você consegue gerenciar a si mesmo. Pense em quanto tempo você gasta vendo mensagem instantânea, solicitações no facebook, linkedin, whatsapp, e-mail e recebendo colegas na sua mesa. Desconecta-se AGORA do mundo, foca no seu trabalho e segue. Desta maneira muitas energias que consomem a sua distração desaparecerão.
Eu sinto que as pessoas estão o tempo inteiro achando que o trabalho está “lá fora”, que precisam unir um conjunto de coisas pra serem felizes no trabalho. E sabe o que acontece? Não são felizes e nunca estão satisfeitos. Não existe um trabalho apaixonante, a paixão está em você fazer aquele trabalho. Outra tendência é minimizarmos aquilo que nós fazemos, mude a história que você conta sobre aquilo que você faz. Você faz parte de uma organização que ajuda pessoas de muitas maneiras, essa é a razão pela qual você se levanta de manhã e vai trabalhar todos os dias. Atrele isso a felicidade e valorize o seu oficio.
Eu já me assustei inúmeras vezes com executivos reclamando o dia inteiro que possuem um “problema” para resolver e confesso que por várias vezes eu torci o nariz sem entender bem se eu estava sem levar o trabalho a sério, pois não consigo enxergar os problemas como situações extraordinárias, isso é rotina e não faz mal a ninguém. Quanto mais problemas eu tenho para resolver, mais aprendo, me sinto útil, interajo com as pessoas, elevo o nível de eficiência da corporação e mais oportunidades são geradas. Reclamar é um habito terrível, e ele sempre se inicia com as pequenas coisas, por isso, pondere o seu pensamento e sua fala, pois você não trabalha na pior empresa do mundo, o seu chefe não é o pior, seu time também não, sua carga não é a mais pesada e você não sofre mais do que os outros.
Valorize o processo e não somente o resultado. Lute para que a felicidade seja o estado e não o fim, pois nem sempre temos um bom resultado em algo que executamos, principalmente no trabalho, onde as decisões são compartilhadas e existem diversos fatores não controláveis durante uma ação corporativa e esses nem sempre dependem de você.
Pratique o desapego. Desapegue-se de: memórias do passado, resultado que teve em outras corporações, pessoas que passaram por sua vida, as histórias podem ser parecidas e você as leva como aprendizado, pois os resultados nunca são os mesmos.
Descobrir o prazer e a felicidade no trabalho, é uma questão também de maturidade e a partir do momento que nós agarramos a felicidade e a usamos em tudo que fazemos, ela passa a ser um estado de espírito, uma conquista que influência sua vida inteira, e então você começa a entender que Felicidade é um direito seu. Seja feliz!