Antes de explorar o conceito de humildade, é importante mencionar que esse gap na liderança vem de um ego que alimenta o sentido de separação. Em geral, a humildade só aparece, enquanto discurso, em conferências, em reuniões de equipe ou em atividades fora da empresa, onde as histórias são compartilhadas em um ambiente fora do dia-a-dia da organização. Como Lady Macbeth, que protesta demais, aos “súditos” são contadas histórias de como o líder é uma pessoa humilde.

Verdadeiros líderes humildes não falam de sua humildade. Humildade autêntica pode ser encontrada nos líderes mais fortes, pois eles são os únicos com confiança em suas próprias habilidades, e que, conhecendo tanto a extensão, profundidade e limitações de seu conhecimento, sabem quando consultar, quando cocriar, quando compartilhar, como conversar e estar confortável com aqueles que estão fora de seu seleto grupo de amigos.

Em nosso livro “Holonomics: Business Where People and Planet Matter”, concluímos nosso capítulo intitulado A Dinâmica de Ver com a observação de que “ver bem é um ato de humildade”. Esta é uma grande oportunidade de aprendizado para os líderes. Temos ouvido cada vez mais muita coisa sobre economia participativa, economia em rede que são importantes requisitos para a eficiência das organizações no médio e longo prazos. Porém, para que esses ambientes participativos se estabeleçam e seja possível compartilhar, cocriar, desenvolver novas fontes de valor para o negócio, é fundamental que se tenha a humildade de ver que a inovação vem de uma compreensão profunda e da valorização não apenas das pessoas em sua própria organização, mas de sua rede e dos ecossistemas em que os negócios se desenvolvem e estão inseridos.

Isto é o que faz com que os líderes humildes sejam realmente poderosos. Nós já temos muitas ferramentas, por exemplo, para os principais programas de gerenciamento de mudança, mas como John Kotter continua a apontar, “mais de 70% de todos os principais esforços de transformação falham”. Grande parte dessas falhas reside no reduzido nível de consciência que esses líderes têm sobre suas organizações, o que faz com que não consigam ver os impactos sistêmicos que todas as decisões têm sobre todos os envolvidos.

Para ficar mais claro, considero a analogia com o bambu muito apropriada, uma vez que é a imagem perfeita da humildade, sua capacidade de se dobrar e movimentar quando necessário, ao invés de tentar resistir. Esta capacidade do bambu de se dobrar sem se quebrar reside no fato de que, ao contrário da madeira, que cresce sem nós ou linhas em cada haste, sua anatomia no nível da fibra microscópica o constitui de uma integridade estrutural.

Pessoas humildes também têm essa integridade estrutural, que advém do fato de viverem verdadeiramente os cinco valores humanos universais de paz, verdade, amor, ação correta e não-violência. O bambu é a planta que mais cresce na terra, e como estamos descobrindo agora, extremamente sustentável, com muitos usos nunca antes sonhados como, por exemplo, na fabricação de bicicletas e de estruturas para edifícios.

Quando resolvermos nossos próprios nós, sendo humildes para primeiro ver e depois lidar com as limitações dentro de nós, poderemos nos desenvolver como líderes e realmente criar organizações ágeis, uma vez que os valores humanos como base de todas as relações, passam a estar no lugar da necessidade de controles e de burocracia.

Em síntese, como um conselho prático, sugiro aos líderes meditarem sobre o bambu e tentarem desenvolver suas preciosas qualidades – agilidade, força e humildade.

Esse artigo foi traduzido por Maria Moraes Robinson