*Por Mariana Adensohn
O meu maior desejo é alterar para um ângulo não tradicional como nosso comportamento e nossas emoções são tratados dentro das corporações. Algo precisa mudar.
Minha inquietude começou quando li parte do discurso de Robert Kennedy de 18 de março de 1968, no auge da sua campanha presidencial, onde demostrou total sensibilidade com o que realmente vale a pena na vida, lançando através de suas palavras um ataque satírico à mentira em que se fundamenta a “avaliação da felicidade” baseada no PIB (produto interno bruto) que é o indicador que mede a geração de riqueza de um país, quando diz:
“Nosso PIB considera em seus cálculos a poluição do ar, a publicidade do fumo e as ambulâncias que rodam para coletar os feridos em nossas rodovias. Ele registra os custos dos sistemas de segurança que instalamos para proteger nossos lares e as prisões em que trancafiamos os que conseguem burlá-los. Ele leva em conta a destruição de nossas florestas de sequoias e sua substituição por uma urbanização descontrolada e caótica. Ele inclui a produção de napalm, armas nucleares e dos veículos armados usados pela polícia para reprimir a desordem urbana. Ele registra … programas de televisão que glorificam a violência para vender brinquedos a crianças. Por outro lado, o PIB não observa a saúde de nossos filhos, a qualidade de nossa educação ou a alegria de nossos jogos. Não mede a beleza de nossa poesia e a solidez de nossos matrimônios.
Não se preocupa em avaliar a qualidade de nossos debates políticos e a integridade de nossos representantes. Não considera nossa coragem, sabedoria e cultura. Nada diz sobre nossa compaixão e dedicação a nosso país. Em resumo, o PIB mede tudo, menos o que faz a vida valer a pena.”
Sábias palavras. No que ele pensou quando fez o discurso? Certamente no FUTURO.
E então, lá fui eu pesquisar sobre o tema e descobri que temos o Dia Internacional da Felicidade. Pensei: Pera aí, o que nós estamos valorizando além do dinheiro e do poder (não necessariamente no setor público, estou afirmando que no setor privado acontece a mesma coisa). Por que é que ninguém fala sobre isso dentro das organizações? Sobre a felicidade, sobre o que nos deixa felizes e como fundamentamos essa questão?
A ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o dia 20 de março, Dia Internacional da Felicidade, por sugestão de Butão, em pequeno reino Budista nos Himalaias, que substituiu o uso do PIB pelo Indicador da Felicidade Nacional Bruta. A criação deste dia foi aprovada por UNANIMIDADE pelos 193 estados–membros da ONU.
Muitos governantes dizem que novos elementos devem ser incorporados à forma de se medir a prosperidade.
Depois de muito ler sobre o tema, refleti junto a alguns grupos de trabalho que participo, dentro e fora da organização em que atuo e fiquei intrigada com as respostas das pessoas sobre o que é e como fomentamos a felicidade. Em nenhum momento apareceu o dinheiro, o poder ou qualquer item que o aponte como ROI (retorno sobre o investimento) seja ele qual for, de tempo, saúde e outros. Eu já publiquei um artigo que fala exatamente sobre isso, sobre o nosso esforço em projetar em algo ou alguém a felicidade, chegando à conclusão, que felicidade é o caminho e não algo que devemos alcançar ou medir, pois o que é felicidade para um, não necessariamente para o outro. Pois bem, criei alguns grupos de discussão, para fomentar minha visão e a reflexão dos participantes sobre o que estamos fazendo para mudar o nosso conceito de felicidade como podemos medi-la, pois como diria Robert Kennedy, o PIB ou qualquer outro indicador, mede tudo, menos o que vale a pena, e para minha surpresa, surgiram duas palavras que não saem do meu pensamento e me fazem refletir sobre algumas mudanças que podemos provocar nas corporações, ou talvez menos do que isso, em nossos times, para que a diferença esteja na entrega do resultado, mas… resultado com felicidade, são elas: Fé e Gratidão (sim, temos que ter fé nas pessoas e agradece-las diariamente por todas as suas execuções, isso traz felicidade).
Será que sabemos lidar com essas duas “coisas”? Como elas podem influenciar o ambiente onde estou ou as pessoas que me cercam para que eu consiga resultado com prazer?
Dá para semear a felicidade? Claro que sim, podemos semear a felicidade.
Acredito que o desafio da humanidade, em medir o que “realmente vale a pena”, é tão simples que se inserirmos essas duas palavras no cotidiano, em nossa rotina, em todas as nossas relações, a transformação do ambiente e das pessoas partirá da sua felicidade e então te digo: Que responsabilidade, heim!!! Influencia através da sua satisfação. Influenciar agradecendo.
Durante as discussões, percebi que existe uma resistência grande das pessoas em falar sobre fé e gratidão. Elas não fazem parte do “mundo corporativo”. Seja lá em qual contexto elas são inseridas, bastou uma pessoa (eu mesma) falar sobre fé e gratidão que na mesma hora, nos diversos grupos, todas as pessoas, unanimemente (assim como na votação da ONU sobre o Dia Internacional da Felicidade), levantaram suas mãos para abordar o tema e falar da importância da fé e da gratidão para o grupo, influenciando assim, de maneira positiva, o ambiente e principalmente as pessoas.
Então você deve pensar: Mariana, não viaja, saindo da sala, a realidade é outra e o dia a dia consome qualquer comportamento de fé e gratidão que tenhamos uns com os outros.
OK, antecipo as minhas desculpas e te digo que não estou “nem aí” para o dia a dia e o que as pessoas julgam com relação a isso, eu terei fé e serei grata, essa é minha decisão.
SOBRE A FÉ E A GRATIDÃO
Vamos lá… “eita” ponto complicado para debatermos, não é mesmo?
Eu fui questionada sobre o que é fé, como ter fé e para que serve a fé por milhares de pessoas. Obviamente, tenho minhas crenças e tenho minha fé, o que nada tem a ver com minha religião ou com a sua religião.
Fé, saindo da tradução do dicionário e por mim, é uma palavra que na minha opinião significa “esperança”, “confiança” e “credibilidade”. A fé é um sentimento bom de total crédito em algo ou alguém e no FUTURO, ainda que não haja nenhum tipo de comprovação evidente a verdade da suposição em causa aqui tratada.
Ter fé, e afirmo que fé não tem nada a ver com religião, provoca uma atitude contrária à dúvida e está intimamente ligada à confiança.
Existem situações que ter fé significa ter esperança de que algo vai mudar de forma positiva, para melhor. Isso normalmente acontece quando nos deparamos com uma situação de conflito emocional, no mundo corporativo ou não, ou quando há uma questão física a ser resolvida, como uma doença por exemplo. Fé de que no FUTURO, tudo mudará para melhor.
O termo “fé” surge em diversas declarações populares e também no contexto legislativo em nosso país. A quem diga “fazer fé”, que traz no seu significado popular a crença em alguém ou em algum ato completamente ligado a esperança. Existem expressões que afirmam a forma de agir honestamente sem quebrar um compromisso como “boa fé” e a “má fé” que traz o peso de agir de forma intencional e prejudicial a terceiros em seu significado.
Claro que a fé também tem o seu princípio religioso, difundindo verdades através da denominação, cristã, islâmica, budista, judaica, espirita e muitas outras que assim como no dicionário grego, através da palavra “pistia” indicando o conhecimento de acreditar (em algo ou alguém). Já no latim, a palavra fé, traz a conotação da fidelidade de “fides”, afirmando então aos religiosos, que fé é esperar, é ter esperança, é ser fiel a algo que não se vê, mas crê.
Como isso começou, de onde veio essa minha vontade exacerbada de escrever sobre fé e gratidão.
Obviamente passando por alguns conflitos emocionais e físicos e então nasceu em mim a fé, não controlável, em pessoas e em algo que não vejo, mas creio. E na gratidão a essas mesmas pessoas por me ajudarem a olhar para o futuro como algo que só depende de mim e do que vou plantar em minha trajetória (pessoal e profissional).
Algo que sempre me incomodou nas organizações por onde passei, e claro que não estou generalizando, foi assistir de camarote cenas em que os colaboradores e ou executivos eram expostos a contestações incabíveis. Será que alguém teve fé nele (a), será que aquele líder fez algo para ajudar a construir o futuro na fé de que aquela pessoa era capaz? Será que existiu gratidão por algum resultado alcançado, até porque ninguém faz nada na unidade, aqui estamos falando de times.
Pensei, é isso, eu quero ter fé nas pessoas. Mas então, como eu alimento essa fé, o que falo sobre essa fé e o que eu faço para isso? Questionamentos sem fim sobre minhas atitudes e sobre as atitudes daqueles que observei em diversas situações.
Se eu falar sobre minha fé religiosa, o que vão pensar? Como vão me julgar? Mas ter fé não é somente ter religião, é acreditar no futuro, é crer em alguém ou em algo, como em um projeto dentro da organização. Eu tenho que crer para buscar a solução e conclusão do mesmo. Tenho que acreditar que aquilo é bom para a companhia e para as pessoas que ali estão inseridas, ou seja, a fé não necessariamente é religião. E é claro que passei a usar aquela velha frase “tenha fé que tudo dará certo”, em tudo, absolutamente tudo que faço.
Como eu faço? Simples: Qualquer religião, é baseada em dogmas, que nada mais são do que diretrizes estabelecidas, nas quais as pessoas creem sem que o líder ou clero tenha que dar mais explicações, apenas creem.
Além dos dogmas, precisamos inserir o nosso racional no contexto. Você deve achar que eu sou maluca, primeiro fala de dogmas e diretrizes sem muita explicação e agora coloca o racional no meio. Sim, temos que usar o racional, porque o racional vem da consciência da filosofia de vida, que obviamente tem a ver com as experiências que já vivemos, unindo assim o dogma ao sentimento e racionalismo.
As experiências de cada pessoa, base para a fé, são intransferíveis e completamente pessoais. Ah! Na minha opinião a frase “eu aprendi com o erro do outro, ou acertei pelo exemplo do outro” não existe. Somos fruto e experiência única e exclusivamente daquilo que nós vivemos. Todas essas experiências acumuladas, dão origem a uma energia e um sentimento que pode ser definido como fé, e assim eu o faço.
Sim, é isso, eu tenho fé nas pessoas, tenho fé que elas podem sim serem melhores, que podem juntas mudar o que quiserem, fazer o que desejarem, transformar qualquer situação ruim, como a atual economia do nosso país que tem nos feito cada vez mais ficar descrentes no outro, mas… é isso, a fé em acredito que o SER humano, pode sim SER o que ele quiser e melhor do que ele é. Por isso eu digo, nós LIDERES, NÃO PODEMOS PERDER A FÉ!
AH! Sobre a gratidão, o que você tem a agradecer?
Obrigada por ler meu pensamento e por compartilhar da minha boa fé. SIM, eu acredito em você, nas pessoas e na nossa capacidade de transformação.