Por Daniela Panisi
“Não adianta chorar pelo leite derramado”. Cansei de ouvir minha avó dizer esta frase, sempre que eu começava a choramingar porque as coisas não tinham dado certo. Em qualquer ocasião que fosse, nas brincadeiras, na amizade, na natação, na nota ruim da escola, lá estava ela com a frase: “Não adianta chorar pelo leite derramado”.
Já que não adiantava chorar pelo leite derramado, o jeito era se virar para “limpar” o chão e ver se tinha sobrado algum pouquinho na leiteira para salvar. Eu não sabia (e, acho, minha avó muito menos), mas ela estava me ensinando, ou treinando, a lidar com as adversidades da vida. Minha avó, instintivamente, desenvolvia em mim uma inteligência requisitada em nosso mercado de trabalho hoje: o coeficiente de adversidade. Nome complexo, não? Para facilitar a vida, o coeficiente de adversidade também é conhecido como capacidade de resiliência.
Simplificando o conceito: a capacidade de resiliência é o quão rápido conseguimos nos levantar depois de uma queda. E, a melhor notícia de todas, é que é algo treinável, desenvolvido em qualquer fase da vida ou idade.
Podemos relacionar o desenvolvimento dessa competência com o desenvolvimento do que chamamos de empowerment. Explico-me melhor. A capacidade de resiliência tem como estrutura central quatro elementos. São eles:
– Controle: é nossa habilidade de resposta e análise de uma situação-problema. O quanto conseguimos controlar nossos pensamentos e sentimentos pessimistas. Aumentando esse controle podemos entender e focar no que pode ser alterado na adversidade. Sem chorar pelo leite derramado você conseguirá limpar a bagunça.
– Assumir responsabilidades: o quanto exercemos nosso papel em melhorar a parte que nos cabe em determinada situação, independente do culpado. Não adianta ficar reclamando que o fogo estava alto demais, ou que o telefone tocou bem naquela hora. O leite derramou e você pode limpar ou contratar alguém que limpe o mais rápido possível, antes que ele azede sua cozinha.
– Alcance: diz respeito até que ponto deixamos as adversidades afetarem outras áreas de nossas vidas. Como percebemos o tamanho de nossos problemas? Conseguimos “colocar cada coisa no seu pacote”? Voltando ao leite, não é porque ele foi derramado na cozinha que a vida é muito difícil, você vai chorar no trabalho, ficará com cara de choro para seu namorado e responderá “o que tem de bom nele?” toda vez que alguém te desejar um bom dia.
–Duração: quanto tempo achamos que a adversidade vai durar. Não é porque o leite derramou pela manhã que você tem que acreditar que não há nada que se possa fazer, porque agora a sua cozinha está arruinada para sempre e você nunca mais vai conseguir limpá-la.
Esses quatro fatores determinam o quanto nos envolvemos com as adversidades e qual proporção damos a elas em nossas vidas. Treinando nossa resiliência, “tomamos” a parte que nos cabe de cada situação em nossas mãos, aumentando o sentimento de que aquilo que fazemos é importante e de nossa responsabilidade (o começo do empowerment).
Assim, quando aprendemos a não chorar pelo leite derramado e adquirimos recursos internos para lidar com as adversidades em seu tamanho real, desenvolvemos também nossa autoestima e a habilidade de tomar decisões assertivas e rápidas. Qualidades almejadas não apenas no mercado de trabalho, mas em muitos momentos da vida de cada um, certo?