Quem se atenta tem o que contar – Por Daniela Panisi
Gerenciamento é o ato de narrar histórias. Faço aqui um paralelo com o texto “O Narrador” de Walter Benjamin, para tentar esclarecer minha afirmação. Segundo ele, “o narrador é um homem que sabe dar conselhos”, e, ainda acrescento mais, é uma pessoa que sabe se atentar, no sentido de prestar atenção a si mesmo e de se provocar. Entendamos como “dar conselhos” orientar, passar ensinamentos, organizar e planejar para facilitar os processos. Entretanto, o que muito tem acontecido, é que, engolidos pelas burocracias dos próprios processos, as organizações estão perdendo a tradição das narrativas. No afã da busca pelo resultado rápido planta-se em terreno árido, tirando mais ainda seus nutrientes. As jornadas intensas de trabalho, reuniões intermináveis e sem objetividade, o pouco incentivo para outras áreas da vida que não estejam diretamente relacionadas ao trabalho, todos esses exemplos e outros me fazem crer que, apesar da evolução dos direitos humanos e trabalhistas, ainda vivemos na era da indústria retratada por Charles Chaplin em seu filme “Tempos Modernos”, apertando parafusos sem sentido.
Segundo Benjamin, nossas experiências estão deixando de ser comunicáveis. Questiono-me: estão deixando de ser comunicáveis, ou somos nós que não entramos em contato com estas experiências para poder comunicá-las?
Toda experiência, antes de ser comunicável, é vivida em nosso corpo, somos tocados. Apenas depois de refletirmos e compreendermos de que modo ficamos marcados por alguma situação, é que podemos chamá-la de experiência e comunicá-la. Então, primordialmente, precisamos voltar nosso foco de atenção para nós mesmos, conseguir ter atenção plena nos momentos vividos para constituí-los como experiência.
Daniel Goleman, em determinado momento de seu livro Foco, fala sobre como nosso modus vivendi tem favorecido a dispersão da atenção, sempre voltada a coisas externas, sempre com urgências a serem resolvidas de imediato, pessoas para conversar, gagets dos quais viramos escravos para responder ao primeiro sinal sonoro de novas mensagens. Tornamo-nos alienados de nós mesmos, e, distantes de nós mesmos, como poderíamos ser próximos dos outros? Como trocar experiências se não mais as experienciamos?
Em consequência, sem experiências para trocas, o narrador definha. Aconselhar, ou sugerir a continuação de uma história, tem se tornado ato superficial, essa sugestão é sempre óbvia e trivial. Perde-se a característica do narrador de saber verbalizar sua própria história, inovadora e criativa, criando outras histórias e soluções em conjunto. Não seria esse o resgate necessário hoje nas organizações?
Espero eu que a primeira sentença do livro de Walter Benjamin ainda tenha a chance de ser revertida:
“É como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências. Uma das causas desse fenômeno é óbvia: as ações da experiência estão em baixa, e tudo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de todo.”
Deixe uma resposta